Há muito tempo, em uma terra onde o sol e a lua dançavam em harmonia, existia um rio sagrado chamado Nzadi, que serpenteava por florestas e savanas. O povo da aldeia vizinha acreditava que o rio era um presente dos deuses, pois suas águas não apenas saciavam a sede, mas traziam prosperidade às colheitas e curavam enfermidades. No entanto, o rio era guardado por Nyoka, uma gigantesca serpente espiritual, venerada e temida por todos.
O Pacto do Rio
Os anciãos contavam que, nos primórdios do mundo, Nyoka fez um pacto com os deuses: ele protegeria as águas para manter o equilíbrio entre a natureza e os homens. Em troca, o povo da terra deveria respeitar as águas e nunca tentar dominar o que não lhes pertencia. Toda lua cheia, a aldeia oferecia oferendas ao espírito-serpente — frutas, ervas e mel — que eram deixadas às margens do rio.
Durante gerações, a paz foi mantida. Mas essa harmonia começou a se desfazer quando um jovem caçador chamado Kwame, ambicioso e impetuoso, desafiou as tradições. Kwame acreditava que o poder do rio estava sendo desperdiçado e que, se conseguisse capturar Nyoka, poderia controlar a água e trazer riquezas inigualáveis para sua aldeia.
O Desafio de Kwame
Em uma noite sem luar, Kwame preparou uma armadilha usando redes de fibra mágica, forjadas com a ajuda de um feiticeiro. Ele navegou pelo Nzadi em uma canoa silenciosa, guiado apenas pelo som das águas. Ao avistar Nyoka emergindo das profundezas, com seus olhos dourados cintilando como estrelas, Kwame lançou as redes, acreditando ter vencido.
Mas assim que a rede envolveu o corpo da serpente, o rio começou a se agitar violentamente. As águas se ergueram como montanhas líquidas, inundando tudo à volta. Nyoka não era apenas um guardião; ele era o próprio espírito do rio. Ao ser capturado, a correnteza perdeu sua harmonia e se tornou selvagem e imprevisível.
Kwame, tomado pelo pavor, tentou fugir, mas Nyoka o encarou e falou pela primeira vez:
— Aquele que busca controlar o sagrado encontrará apenas caos.
Com um rugido poderoso, Nyoka se libertou das redes e desapareceu nas profundezas, levando consigo não apenas as águas do rio, mas também o equilíbrio que ele mantinha.
O Preço da Ambição
Na manhã seguinte, a aldeia encontrou o leito do rio seco, como uma cicatriz na terra. As colheitas murcharam, e a sede começou a tomar conta das pessoas. Kwame, arrependido e exausto, retornou à aldeia e confessou seus atos. Os anciãos, furiosos e tristes, sabiam que a única esperança era tentar apaziguar o espírito de Nyoka.
Durante sete luas, toda a aldeia trabalhou para reconstruir as oferendas e preparar um grande ritual de reconciliação. À última noite, Kwame se jogou ao leito seco do rio e pediu perdão com lágrimas sinceras, prometendo nunca mais tentar dominar o que pertence aos deuses.
Então, uma chuva leve começou a cair, e de repente, uma nova corrente de água jorrou do solo, enchendo novamente o leito do rio. Nyoka emergiu, mas desta vez, seus olhos não estavam cheios de fúria — apenas vigilância.
— Que esta água sirva para sustentar, e não para dominar — murmurou o espírito-serpente, antes de mergulhar de volta nas profundezas.
O Legado do Nzadi
Desde então, o povo da aldeia aprendeu que a natureza e o sagrado precisam ser respeitados. O rio Nzadi voltou a fluir, mas sua correnteza nunca mais foi a mesma — como um lembrete de que a ambição sem respeito leva à ruína.
A lenda de Nyoka se espalhou por toda a região, ensinando que a verdadeira força não está em possuir, mas em proteger e cuidar do que nos é confiado. Assim, o mito continua a ser contado ao redor das fogueiras, para que as futuras gerações jamais esqueçam o valor do equilíbrio entre os homens e os espíritos da terra.
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