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Foto do escritorHelbson de Avila

Ujamaa (Economia Cooperativa): construir e manter as próprias lojas, mercados e outras empresas e lucrar com elas em conjunto

A economia cooperativa, ou Ujamaa, é um conceito que tem suas raízes na África, especialmente entre os povos da Tanzânia, e se destaca como uma forma única de organização econômica e social. O termo "Ujamaa" foi popularizado por Julius Nyerere, o primeiro presidente da Tanzânia, que defendia uma abordagem de socialismo africano fundamentada na solidariedade e na autossuficiência. O conceito se concentra na criação e manutenção de negócios coletivos, como lojas e mercados, com o objetivo de obter lucros conjuntos, promovendo, assim, o desenvolvimento econômico e social das comunidades.


História e contexto do Ujamaa


A introdução do Ujamaa na Tanzânia ocorreu durante a década de 1960, um período em que muitos países africanos buscavam maneiras de se libertar do colonialismo econômico e político. Nyerere acreditava que o desenvolvimento deveria ser orientado pela comunidade e que as economias africanas deveriam ser moldadas por seus contextos locais, ao invés de seguir os modelos ocidentais. O Ujamaa baseava-se em valores tradicionais de coletividade e solidariedade que já eram comuns entre as tribos africanas, buscando integrar esses princípios em um modelo de economia que favorecesse o bem-estar comum.


O conceito também implicava uma série de políticas econômicas, como a nacionalização de indústrias e a promoção de cooperativas locais. O objetivo era garantir que a riqueza gerada pela economia fosse distribuída de maneira mais equitativa, diminuindo as disparidades entre as diferentes camadas da sociedade.


Princípios do Ujamaa


Os princípios do Ujamaa são fundamentais para a sua implementação prática. Em sua essência, o Ujamaa promove uma série de valores, como:


1. Solidariedade: A ideia de que as pessoas devem trabalhar juntas em prol de objetivos comuns. Isso se reflete na criação de cooperativas, onde os membros investem e trabalham em conjunto para o sucesso do empreendimento.


2. Autossuficiência: O foco na capacidade das comunidades de produzir o que precisam, minimizando a dependência de produtos e serviços externos. Isso é feito através da criação de negócios locais que atendem às necessidades da comunidade.


3. Participação comunitária: Todos os membros da comunidade têm a oportunidade de participar na tomada de decisão, garantindo que as vozes de todos sejam ouvidas e respeitadas. Essa participação ativa fomenta um senso de posse e responsabilidade.


4. Desenvolvimento sustentável: O Ujamaa busca um modelo econômico que respeite os recursos naturais e promova práticas sustentáveis. A ideia é que o crescimento econômico não ocorra à custa do meio ambiente, mas em harmonia com ele.


Implementação do Ujamaa na prática


Para que o Ujamaa funcione efetivamente, é crucial que haja uma infraestrutura adequada e uma forte rede de apoio. A criação de cooperativas que gerenciam lojas, mercados e outros tipos de empresas é um dos caminhos mais diretos para a implementação do Ujamaa. Essas cooperativas podem ser formadas por pequenos agricultores, artesãos e comerciantes locais, que se juntam para maximizar seus recursos e compartilhar os lucros.


Um exemplo prático é a criação de um mercado cooperativo. Nesse mercado, os membros da comunidade podem vender seus produtos a preços justos, aumentando seu potencial de lucro em relação à venda individual. Além disso, os consumidores se beneficiam ao ter acesso a produtos frescos e variados, muitas vezes a preços mais acessíveis do que os encontrados em mercados tradicionais.


Desafios enfrentados


Apesar das numerosas vantagens, a implementação do Ujamaa não está isenta de desafios. Um dos principais obstáculos é a resistência à mudança de mentalidade. Em sociedades onde as relações capitalistas estão profundamente enraizadas, convencer as pessoas a confiar em esforços coletivos pode ser difícil. Além disso, a falta de educação financeira e empresarial pode limitar a habilidade dos membros da cooperativa em gerenciar suas empresas de forma eficaz.


Outro desafio significativo é o acesso a financiamento. A maioria das cooperativas inicia suas operações com orçamentos limitados e pode ter dificuldade em atrair investimentos externos. Criar um sistema que permita que essas cooperativas se financiem e cresçam torna-se, portanto, essencial para o seu sucesso a longo prazo.


Conclusão


O Ujamaa representa uma alternativa viável e necessária em um mundo cada vez mais globalizado, onde o individualismo e as economias de mercado frequentemente prevalecem sobre o bem comum. Ao promover a criação e manutenção de lojas, mercados e outras empresas coletivas, o Ujamaa não apenas busca lucros, mas também promove um senso de comunidade, solidariedade e autossuficiência.


Embora enfrente desafios significativos, a implementação de princípios cooperativos pode levar a um desenvolvimento mais justo e sustentável, no qual os lucros são compartilhados e a prosperidade é construída em conjunto. Assim, o Ujamaa se destaca como uma abordagem inovadora para enfrentar os problemas econômicos e sociais contemporâneos, resgatando valores que são fundamentais para a construção de uma sociedade mais equitativa e próspera. A experiência tanzaniana pode servir de modelo para outras nações em desenvolvimento, que buscam maneiras de equilibrar suas economias e elevar o padrão de vida das suas comunidades.

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